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Os 7 Erros Mais Comuns na Prescrição de Suplementos

Medical documents and checklist on desk

A prescrição de suplementos é uma ferramenta valiosa na prática nutricional, mas repleta de armadilhas. Erros prescrição suplementos podem comprometer resultados, gerar efeitos adversos e até expor o profissional a problemas éticos e jurídicos. Este artigo identifica os 7 erros mais comuns que nutricionistas cometem e ensina como prescrever suplementos corretamente para uma prática segura e eficaz. Veja também como prescrever com segurança e guia sobre creatina para melhorar sua prática com SimpleDiet.

Erro 1: Prescrever Sem Avaliação Adequada

O Problema

Prescrever suplementos baseando-se apenas em queixas superficiais ou seguindo "protocolos prontos" sem avaliar individualmente o paciente.

Como Isso Acontece

  • Paciente chega pedindo "vitamina para imunidade" e recebe sem questionamento
  • Uso de protocolos genéricos para todos os casos similares
  • Falta de tempo ou disposição para anamnese completa
  • Pressão do paciente por soluções rápidas
  • Prescrição "preventiva" sem investigar real necessidade

Consequências

Consequência Exemplo
Suplementação desnecessária Prescrever ferro sem avaliar se há anemia
Gastos financeiros injustificados Múltiplos suplementos quando dieta resolveria
Toxicidade Hipervitaminose por doses excessivas sem necessidade
Falsa sensação de saúde Confiar em suplementos enquanto mantém alimentação ruim

A Solução

Avaliação Mínima Obrigatória

  • Recordatório alimentar de 24h: No mínimo 1, idealmente 3 dias
  • Questionário de frequência alimentar: Identificar padrões de consumo
  • Cálculo de ingestão de nutrientes: Comparar com DRIs
  • Histórico clínico: Doenças, medicamentos, cirurgias
  • Exames laboratoriais: Quando clinicamente indicado
  • Avaliação de estilo de vida: Atividade física, estresse, sono

Regra de ouro: Se a dieta pode suprir a necessidade com ajustes razoáveis, priorize isso antes de suplementar.

Erro 2: Não Considerar Contraindicações

O Problema

Ignorar ou desconhecer situações em que determinado suplemento não deve ser usado ou requer precauções especiais.

Contraindicações Frequentemente Esquecidas

Vitamina A em altas doses

  • Contraindicação: Gestantes (risco de teratogenicidade)
  • Dose segura na gestação: Máximo 3.000 UI/dia

Ferro Suplementar

  • Contraindicação: Hemocromatose, talassemia
  • Precaução: Doença hepática, histórico de úlceras

Ômega-3 em Altas Doses

  • Precaução: Uso de anticoagulantes (warfarina)
  • Contraindicação relativa: Cirurgias programadas (suspender 1-2 semanas antes)

Cafeína

  • Contraindicação: Arritmias cardíacas, hipertensão não controlada
  • Precaução: Gestantes (máximo 200mg/dia), ansiedade

Creatina

  • Precaução: Doença renal preexistente (avaliar com médico)
  • Mito: Não causa problemas renais em pessoas saudáveis

A Solução

Checklist Pré-Prescrição

  • ☐ Perguntei sobre todas as doenças crônicas
  • ☐ Listei todos os medicamentos em uso
  • ☐ Questionei sobre alergias alimentares e medicamentosas
  • ☐ Verifiquei se há gestação ou lactação
  • ☐ Perguntei sobre cirurgias programadas
  • ☐ Consultei interações medicamentosas conhecidas
  • ☐ Avaliei função renal e hepática (quando relevante)

Erro 3: Dosagens Incorretas

O Problema

Prescrever doses muito baixas (ineficazes) ou muito altas (potencialmente tóxicas), sem considerar peso corporal, biodisponibilidade e limites de segurança.

Exemplos Comuns de Erros de Dosagem

Subdosagem

  • Vitamina D 400 UI/dia para deficiência: Insuficiente para corrigir (ideal: 2.000-4.000 UI)
  • Creatina 1-2g/dia: Abaixo da dose efetiva de manutenção (3-5g)
  • Ômega-3 500mg/dia para dislipidemia: Dose terapêutica é 2-3g/dia de EPA+DHA

Superdosagem

  • Vitamina A >10.000 UI/dia por longo prazo: Risco de toxicidade hepática
  • Ferro >100mg/dia sem justificativa: Desconforto GI, risco de sobrecarga
  • Cafeína >400mg/dia: Efeitos adversos cardiovasculares e ansiedade
  • Vitamina B6 >100mg/dia: Neuropatia periférica em uso prolongado

A Solução

Suplemento Dose Efetiva Limite Seguro (UL)
Vitamina D 1.000-4.000 UI/dia 4.000 UI/dia (adultos)
Vitamina C 500-1.000 mg/dia 2.000 mg/dia
Ferro elementar 30-60 mg/dia (anemia) 45 mg/dia (adultos)
Zinco 8-15 mg/dia 40 mg/dia
Magnésio 300-400 mg/dia 350 mg/dia (suplementar)
Ômega-3 (EPA+DHA) 1-3 g/dia 3 g/dia (sem supervisão)

Dicas para Dosagem Correta

  • Consulte as DRIs: RDA (necessidade) e UL (limite superior tolerável)
  • Considere biodisponibilidade: Nem tudo que é ingerido é absorvido
  • Ajuste por peso: Especialmente para creatina, proteína, cafeína
  • Inicie conservador: Comece com doses menores e aumente se necessário
  • Reavalie periodicamente: Ajuste conforme resposta e exames

Erro 4: Ignorar Interações

O Problema

Não verificar se o suplemento prescrito interage com medicamentos, alimentos ou outros suplementos que o paciente já utiliza.

Interações Importantes

Suplemento x Medicamento

Cálcio

  • Levotiroxina (Puran): Reduz absorção do hormônio em até 40%
  • Solução: Espaçar 4 horas entre cálcio e hormônio

Vitamina K

  • Warfarina (Marevan): Antagoniza efeito anticoagulante
  • Solução: Manter ingestão consistente, não suplementar sem aval médico

Magnésio

  • Antibióticos (quinolonas, tetraciclinas): Reduz absorção do antibiótico
  • Solução: Espaçar 2-3 horas

Vitamina E e Ômega-3

  • Anticoagulantes/antiplaquetários: Aumenta risco de sangramento
  • Solução: Limitar doses, monitorar INR

Suplemento x Suplemento

Cálcio x Ferro

  • Problema: Competem pela absorção intestinal
  • Solução: Tomar em horários diferentes (mínimo 2h)

Cálcio x Zinco x Magnésio

  • Problema: Altas doses competem por absorção
  • Solução: Não exceder doses recomendadas, dividir ao longo do dia

Cafeína x Outros Estimulantes

  • Problema: Efeitos aditivos (taquicardia, ansiedade)
  • Solução: Somar doses totais, respeitar limite de 400mg/dia

A Solução

  • Sempre pergunte sobre medicamentos de uso contínuo
  • Consulte bases de dados de interações (Micromedex, Drugs.com)
  • Oriente sobre horários adequados de administração
  • Documente no prontuário as orientações sobre interações
  • Em caso de dúvida, entre em contato com o médico prescritor

Erro 5: Falta de Acompanhamento

O Problema

Prescrever suplementos e não estabelecer retornos para avaliar resposta, adesão e necessidade de ajustes.

Por Que Isso é Grave

  • Paciente pode não estar aderindo corretamente
  • Doses podem precisar de ajuste (insuficiente ou excessiva)
  • Efeitos adversos podem passar despercebidos
  • Custo-benefício pode não se justificar mais
  • Deficiência pode já ter sido corrigida (suplementação desnecessária)
  • Perda de oportunidade de educar sobre alimentação

A Solução

Erro 6: Prescrever Além das Competências

O Problema

Ultrapassar os limites legais da profissão prescrevendo substâncias com ação farmacológica ou finalidade terapêutica medicamentosa.

Exemplos de Prescrições Ilegais

Substância Por Que Não Pode Competência
Sibutramina, Liraglutida Medicamentos para obesidade Médico
Hormônios (T3, T4, testosterona) Ação farmacológica endócrina Médico
Metformina Antidiabético oral Médico
Fluoxetina, Bupropiona Antidepressivos/ansiolíticos Médico/Psiquiatra
Orlistat Medicamento inibidor de lipase Médico
SARMs, Clembuterol Substâncias não aprovadas/controladas Nenhuma (ilegal)

Zona Cinzenta: Fitoterapia

Nutricionista PODE prescrever:

  • Fitoterápicos com finalidade nutricional (ex: chá verde para antioxidantes)
  • Compostos botânicos em alimentos funcionais
  • Extratos em doses nutricionais, não medicinais

Nutricionista NÃO PODE prescrever:

  • Fitoterápicos com finalidade terapêutica medicamentosa
  • Plantas medicinais para tratamento de doenças
  • Doses com efeito farmacológico documentado

Regra prática: Se o objetivo é tratar/curar doença, é ato médico. Se é complementar nutrição, é ato do nutricionista.

A Solução

  • Conhecer as Resoluções do CFN (656/2020, 680/2021)
  • Em dúvida, consultar o CRN regional
  • Trabalhar em parceria com médicos
  • Nunca ceder a pressões de pacientes por prescrições ilegais
  • Documentar recusas quando paciente insiste

Erro 7: Não Educar o Paciente

O Problema

Entregar a prescrição sem explicar o porquê, como usar, o que esperar e por quanto tempo. Resultado: baixa adesão e expectativas irreais.

Consequências da Falta de Educação

  • Baixa adesão: Paciente não entende importância, abandona
  • Uso incorreto: Horários errados, com alimentos inadequados
  • Expectativas frustradas: Espera efeitos milagrosos imediatos
  • Gastos desnecessários: Compra produtos inadequados ou caros
  • Culpa do profissional: "Não funcionou" quando o problema foi má orientação

A Solução

O Que o Paciente DEVE Saber

1. Por Que Está Sendo Prescrito
  • Qual deficiência ou necessidade
  • Como foi identificada (exame, dieta)
  • Por que a dieta não é suficiente (no momento)
2. Como Usar Corretamente
  • Dose exata (não "uma colher" - quantas gramas?)
  • Horário ideal (manhã, pré-treino, com refeições)
  • Com que tomar (água, suco, leite - ou evitar algum?)
  • Interações a evitar (medicamentos, alimentos)
3. O Que Esperar
  • Tempo para resultados (dias, semanas, meses)
  • Magnitude dos efeitos (realista)
  • Possíveis efeitos colaterais leves (desconforto GI, cor de urina)
  • Sinais de que está funcionando
4. Armazenamento e Validade
  • Temperatura (geladeira? temperatura ambiente?)
  • Proteger da luz e umidade
  • Verificar prazo de validade
  • Após aberto, consumir em X meses
5. Escolha do Produto
  • Marcas confiáveis (registro ANVISA)
  • Forma ideal (cápsula, pó, líquido)
  • O que evitar (produtos sem registro, promessas milagrosas)
  • Faixa de preço razoável
6. Quando Reavaliar
  • Data do próximo retorno
  • Quando fazer novos exames
  • Sinais de alerta para procurar antes do retorno

Checklist de Prescrição Segura

Casos Práticos: Aprendendo com Erros Reais

Caso 1: Ferro Sem Investigação

Erro: Paciente se queixa de cansaço. Nutricionista prescreve ferro 60mg/dia sem exames.

Problema: Paciente tinha talassemia minor (contraindicação relativa). Ferritina estava ALTA. Cansaço era por apneia do sono.

Lição: Sempre investigar causa do sintoma. Solicitar hemograma e ferritina antes de suplementar ferro.

Caso 2: Cálcio com Levotiroxina

Erro: Prescreve cálcio 500mg no café da manhã. Paciente toma levotiroxina nesse horário.

Problema: Cálcio reduz absorção do hormônio. Paciente teve descompensação do hipotireoidismo.

Lição: Sempre perguntar sobre medicamentos e horários. Espaçar cálcio e levotiroxina em 4h.

Caso 3: Vitamina D em Dose Fixa

Erro: Prescreve 10.000 UI/dia para todos com deficiência, sem individualizar ou solicitar exame controle.

Problema: Um paciente desenvolveu hipercalcemia após 6 meses. Outro não corrigiu deficiência (absorção ruim).

Lição: Individualizar dose baseada no nível sérico. Reavaliar com exame em 3 meses. Ajustar conforme resposta.

Recursos para Prescrição Segura

Fontes Confiáveis de Consulta

  • DRIs (Dietary Reference Intakes): IOM/NASEM
  • Examine.com: Evidências sobre suplementos
  • PubMed/Cochrane: Estudos científicos
  • Micromedex/UpToDate: Interações medicamentosas (via instituições)
  • Drugs.com: Interações (gratuito)
  • Resoluções CFN: Limites legais
  • ANVISA: Registro e regulamentação de produtos

Considerações Finais

Evitar esses 7 erros comuns transforma a prescrição de suplementos de uma prática arriscada em uma ferramenta segura e eficaz. O nutricionista que domina a suplementação baseada em evidências, dentro dos limites legais e com protocolos seguros, diferencia-se profissionalmente e entrega resultados superiores aos pacientes.

Lembre-se: suplemento é complemento, não substituto. A base sempre será uma alimentação adequada. Use a suplementação com critério, ciência e ética, e seus pacientes colherão os benefícios sem riscos desnecessários.

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Referências

  1. Conselho Federal de Nutricionistas. Resolução CFN nº 656/2020.
  2. Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes: Applications in Dietary Assessment. Washington, DC: The National Academies Press, 2000.
  3. Guallar E, et al. Enough Is Enough: Stop Wasting Money on Vitamin and Mineral Supplements. Ann Intern Med. 2013;159(12):850-851.
  4. Mohn ES, et al. Evidence of Drug-Nutrient Interactions with Chronic Use of Commonly Prescribed Medications: An Update. Pharmaceutics. 2018;10(1):36.
  5. Thomas DT, et al. American College of Sports Medicine Joint Position Statement: Nutrition and Athletic Performance. Med Sci Sports Exerc. 2016;48(3):543-568.
  6. ANVISA. Resolução RDC nº 243/2018 - Suplementos Alimentares.